Há, no entanto, dois paradoxos na identificação de Paulo Afonso com o fenômeno do cangaço. O primeiro é de ordem temporal: o povoamento que deu origem à nossa cidade começou com as obras da CHESF em meados dos anos 40. Lampião morreu em 1938 e o fim definitivo do cangaço se dá em 1940 com a morte de Corisco. Se em 1930 alguém dissesse a Lampião que estava indo a Paulo Afonso, ele se lembraria de imediato da famosa cachoeira e nunca desta cidade. Afirmar que Maria Bonita nasceu em Paulo Afonso é o mesmo que afirmar que ela nasceu em uma cidade que não existia em sua época.
Outra questão é que não só Paulo Afonso é uma cidade que surgiu após o fim do cangaço, mas ela é a negação de tudo o que aquele fenômeno significou. O cangaço é produto das contradições do campo, principalmente da concentração de terras, do poder dos coronéis, dos conflitos entre famílias e da miséria do povo sertanejo. A cidade de Paulo Afonso é fruto de um projeto de desenvolvimento industrial e tecnológico. É filha da modernização e, sendo assim, negação completa do tradicionalismo rural. A construção das usinas da CHESF foi um empreendimento fundamental para a industrialização do nordeste. Enquanto o cangaço é representação do arcaísmo rural, Paulo Afonso é representação do progresso urbano. Procura-se em um fenômeno tipicamente rural o símbolo para um ambiente tipicamente urbano.
O que explica a procura pela simbologia do cangaço em nossa cidade é a origem camponesa dos pioneiros trabalhadores. Existe nessa população o que podemos chamar de saudade do mundo rural. É esse saudosismo que explica a origem tanto do bloco “Os cangaceiros” como do recente movimento dos historiadores locais do cangaço.
Pescado no blog: http://aristoteleslima.blogspot.com.br/2011/07/polemica-sobre-o-cangaco-em-paulo.html?spref=fb (ALMA RUBRA)
Cena do filme Baile Perfumado
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