quinta-feira, 19 de julho de 2012

O cangaço em Paulo Afonso-Pelo professor Aristóteles Lima Santana

Independente do julgamento moral que se faça sobre os cangaceiros não há dúvidas de que o cangaço foi um fenômeno importante da história do nordeste. Nada há que se contestar em quem se dedica ao estudo sobre esse fenômeno. Em Paulo Afonso a influência do cangaço é anterior à emergência deste grupo atual. Desde os anos 50 do século passado um grupocarnavalesco chamado “Os cangaceiros” celebra os combates de Lampião em uma apresentação teatral em época de carnaval. Em várias cidades do sertão o cangaço é reinvidicado como fenômeno cultural típico e não como apologia da criminalidade.

Há, no entanto, dois paradoxos na identificação de Paulo Afonso com o fenômeno do cangaço. O primeiro é de ordem temporal: o povoamento que deu origem à nossa cidade começou com as obras da CHESF em meados dos anos 40. Lampião morreu em 1938 e o fim definitivo do cangaço se dá em 1940 com a morte de Corisco. Se em 1930 alguém dissesse a Lampião que estava indo a Paulo Afonso, ele se lembraria de imediato da famosa cachoeira e nunca desta cidade. Afirmar que Maria Bonita nasceu em Paulo Afonso é o mesmo que afirmar que ela nasceu em uma cidade que não existia em sua época.
Outra questão é que não só Paulo Afonso é uma cidade que surgiu após o fim do cangaço, mas ela é a negação de tudo o que aquele fenômeno significou. O cangaço é produto das contradições do campo, principalmente da concentração de terras, do poder dos coronéis, dos conflitos entre famílias e da miséria do povo sertanejo. A cidade de Paulo Afonso é fruto de um projeto de desenvolvimento industrial e tecnológico. É filha da modernização e, sendo assim, negação completa do tradicionalismo rural. A construção das usinas da CHESF foi um empreendimento fundamental para a industrialização do nordeste. Enquanto o cangaço é representação do arcaísmo rural, Paulo Afonso é representação do progresso urbano. Procura-se em um fenômeno tipicamente rural o símbolo para um ambiente tipicamente urbano.

O que explica a procura pela simbologia do cangaço em nossa cidade é a origem camponesa dos pioneiros trabalhadores. Existe nessa população o que podemos chamar de saudade do mundo rural. É esse saudosismo que explica a origem tanto do bloco “Os cangaceiros” como do recente movimento dos historiadores locais do cangaço.


Cena do filme Baile Perfumado

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